A minha boneca


Eu tinha uma pequena boneca de porcelana, que usava um vestido branco e uma fita de renda preta que lhe rodeava a cintura e se prendia nas suas costas, formando um lacinho; calçava uns sapatinhos de pano igualmente pretos. O seu cabelo escuro tinha um lacinho de seda branca, que lhe prendia uma trança.

Brincava com esta boneca sempre que podia até que, certo dia, a minha boneca caiu ao chão e partiu-se. O seu rosto ficou em pedaços. A única coisa que me competia guardar e proteger estava desfeita. Algo tinha destruído a minha boneca de porcelana e senti como se minha infância tivesse chegado ao fim.

Apenas mais tarde compreendi que apenas tinha crescido: tinha deixado de ser uma criança. Mas o certo é que tudo aconteceu demasiado depressa; foi tudo tão rápido como quando adormeço: num segundo estou acordada, depois fecho os olhos e quando dou por mim caminho nos meus sonhos.

Senti-me triste, no entanto, tive de continuar a viver. Houve dias em que apenas queria chorar e, para ninguém o perceber, criava uma máscara invisível onde se refletia um sorriso de falsa alegria. Por detrás dela existia uma lágrima de puro desespero. Eu apenas queria ter a capacidade de voltar atrás no tempo e pará-lo para conseguir proteger a minha boneca.

Sempre que esta estranha emoção despertava em mim, era como se alguém tivesse roubado uma parte de mim, de forma a que eu não conseguisse recuperá-la. Eu chegava ao final de mais um dia com o pressentimento de ter vivido a vida de um estranho. Por vezes, tão depressa sabia exatamente quem era e o que queria, como já não me reconhecia quando me olhava através do espelho.

Contudo, tinha a certeza de que desejava, com todas as minhas forças, voltar a ser criança e de ter a oportunidade de viver aquela infância feliz apenas mais uma vez. Passado algum tempo comecei a perceber quem queria ser. Ainda passo por momentos em que quero voltar atrás no tempo. Mas não o querermos todos? Voltar a um momento em que fomos verdadeiramente felizes?

Ainda guardo a minha boneca de porcelana. Ela recorda-me a minha infância, pois é a prova de que continuo a protegê-la no meu coração. Com ela, consigo continuar a crescer olhando para trás com um sorriso. Sempre com a certeza de que ainda terei muitos momentos para transformar em histórias porque aqui contarei.

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