Caçadores de medo

Tenho vindo a aprender que a melhor maneira de ultrapassar um medo é encarando-o de frente. Penso que é um pouco como ter um pesadelo: vivemos o medo, enquanto dormimos, tão intensamente que acreditamos ser real. Vivemos e sentimos o nosso lado irracional de forma tão palpável que, ao acordar de repente, ficamos desorientados e ainda achamos que estamos em perigo. Passamos o resto da noite em constante alerta e com medo de voltar a adormecer, pois sentimos um aperto enorme no peito com a possibilidade de podermos sonhar tudo novamente.

Para quem acredita, os caça-sonhos são um conforto - uma forma de segurança -, porque sabemos que as suas teias e penas prenderão qualquer pesadelo que possa ameaçar aparecer para assombrar o nosso sono. Em criança, tinha dois caça-sonhos na cabeceira da cama. Gostava de ficar a soprar para as penas e vê-las esvoaçar suavemente. Não percebia muito bem o que simbolizavam, mas gostava deles - eram-me familiares.

Com o medo é a mesma coisa. Tento encontrar caçadores de medos para os manter sempre afastados. Uma pedra da lua no bolso das calças; um colar com uma medalha ao pescoço; uma pequena reza, não sei bem a quem dirigida e sussurrada timidamente. Se resulta, não sei. Mas é certo que me sentia mais segura e determinada.

Até que percebi que afinal eu sou a caçadora dos meus próprios medos. Apenas eu consigo controlá-los: posso estabelecer limites e tentar enfrentá-los devagarinho. Porque nenhum medo deve controlar o meu dia-a-dia, a minha vida, a forma como penso. A bem dizer, o medo é apenas uma sensação estranha na barriga, um arrepio no fundo das costas, mãos suadas e respiração pouco regulada. Porém, quando encaro o medo de frente e entendo que sou eu quem tem o controlo, o medo nunca poderá voltar a magoar-me.

Afinal de contas, apenas é necessário um segundo de coragem!

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