Tragédias felizes


Cheguei recentemente à conclusão que qualquer pessoa prefere histórias trágicas. Não vale a pena dizerem-me que não, porque a verdade é esta: uma história que nos deixa com um aperto no peito e uma lágrima no canto do olho tem muito mais impacto. A tragédia faz-nos sentir coisas; coisas que já sentimos habitualmente ao longo do dia: cansaço, tristeza, desilusão, saudade, frustração...

Independentemente com quem fale durante o dia ou para quem olhe, a tragédia está sempre presente. Uma senhora caminha apressada para apanhar o autocarro, que tem a certeza que irá perder de qualquer maneira. Um homem está em chamada e diz, zangado, que já entregou todos os documentos ao seu superior e nas datas estipuladas. Duas amigas, ainda adolescentes, discutem no passeio devido a um rapaz que ambas conhecem. Uma menina chora no comboio, porque teve de se despedir da avó, que ficou na plataforma a acenar-lhe. Um bebé grita no carrinho, pois deixou cair um brinquedo e ninguém notou.

Estas são pequenas tragédias que vejo no meu dia-a-dia. Na verdade, não irei referir, embora possa nomear brevemente, aquelas que acontecem no mundo e, essas sim, são as verdadeiras Tragédias que assombram a humanidade: guerra e fome; seca e incêndios; violações e homicídios. E posso continuar. Sei que não podemos fazer muito para que estas Tragédias não aconteçam; apenas podemos alertar e cumprir um pequeno papel na sua prevenção. 

Contudo, acho que conseguimos evitar as nossas próprias pequenas tragédias. Pelo menos falo por mim, e posso dizer que prefiro histórias com finais felizes. Embora, admita, as tragédias sejam lindíssimas - como por exemplo «Romeu e Julieta», pois faz-me rir, chorar, celebrar o amor e aceitar que a morte é inevitável -, acabam sempre por tirar mais do que aquilo que dão. Uma história pode ser trágica, mas não significa que tenha de acabar como uma: pode sempre ter finais felizes.

O dia de cada um de nós é feito de pequenas histórias. Cada uma delas não tem de ser trágica: mesmo que o enredo não seja o que esperamos e nos deixe zangados, tristes ou frustrados, a verdade é que o seu final está nas nossas mãos.


Ao final do dia, já em casa termino todas as histórias trágicas que vivi, pois finalmente posso abraçar quem amo e refugiar-me em conforto. Eu escolho viver tragédias felizes, porque no final prefiro viver histórias que me acrescentam mais do que tiram.

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