Viagem até mim


Quando passamos por uma fase mais difícil na nossa vida, e acreditamos que perdemos tudo, a verdade é que muitas vezes não perdemos mais nada se não nós próprios. Corremos atrás de uma vida melhor, aquela que tantas vezes idealizámos, e temos a sensação de estarmos tão perto de a conseguir, mas algo acontece e tudo cai por terra.

A bem dizer, não é a vida que temos que está mais ou menos complicada, nem é o mundo à nossa volta que «não é para nós». Fomos nós que nos perdemos um bocadinho da pessoa que realmente somos, e por vezes torna-se quase impossível perceber se nos encontrámos novamente. Por essa mesma razão escrevi os momentos em que percebi que me estava a encontrar novamente após um longo período difícil, em que me senti tudo menos eu. 

Não sabia quem era nem quem queria ser. Não sabia do que gostava de fazer nem o que queria fazer. Deixei de ter sonhos e objetivos. Fiquei com a sensação inquietante de ter sido da noite para o dia, embora tenha, claro, acontecido aos bocadinhos. Aos bocadinhos, fui-me perdendo de mim própria e sentia que vivia uma vida que não era minha. E como voltar a ser eu? Não foi uma viagem agradável. Precisei de chorar tudo o que tinha para chorar. Logo a seguir, senti que deveria rir à gargalhada; simplesmente rir até me doer a barriga. Depois, aquilo de que mais precisei foi de silêncio - silêncio à minha volta e dentro de mim. Até que, por fim, precisei de estar sozinha para me encontrar novamente. Foi neste momento que me apercebi, devagarinho, de que estava a passar por uma fase de cura, que terminava apenas quando eu me sentisse completamente eu.

Agora que penso realmente nesta viagem que fiz, sei exatamente quais os momentos em que voltei até mim: quando deixei de estar constantemente à espera do que outros tinham, tentando ser outra pessoa; quando parei de fugir dos meus próprios pensamentos e sentimentos; quando já não escondia os meus defeitos, tanto de mim própria como dos outros; quando consegui reconhecer o que tenho para oferecer a este mundo; quando comecei a ver as alegrias e as dores da vida como dádivas; quando a opinião dos outros deixou de influenciar as decisões que tinha a tomar.

Mais importante de tudo, soube que era Eu quando não quis ser mais ninguém para além de mim.

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